Guest Languages


Cidade Livre (fragmento)

Published on May 8th of 2014 by João Almino in Guest Languages.

João Almino

Minha insônia de hoje é o prolongamento daquelas horas quando, na escuridão da noite, eu ouvia barulhos de bêbados pela rua, os latidos de meu cachorro Tufão, as araras que moravam no fundo da casa ou alguma coruja solitária, e abria os olhos para o caleidoscópio de cinzas e negros que desenhavam monstros nas paredes.

Para dar vida à história, bastava eu me transpor para um dia de minha infância, me imaginar no meio de uma avenida da Cidade Livre, e então veria minhas tias desfilando suas formas e trejeitos, Valdivino sentado em frente a uma mesinha  transcrevendo cartas, papai conversando na porta de um bar, uma menina de tranças e olhos negros andando de bicicleta, Tufão me seguindo, e veria o colorido das lojas, dos prédios de madeira, carros gordinhos e pretos estacionados na lateral com seus … Read More »



O único final feliz para uma história de amor é um acidente

Published on February 10th of 2014 by JP Cuenca in Guest Languages.

  

Não posso vê‐la esta noite

Tenho que desistir

Então vou comer fugu

Yosa Buson (1716‐83)

 

 

1.

Antes do sr. Atsuo Okuda abrir a caixa, tudo estava escuro.

Mais que isso: não havia nada para ser iluminado antes do sr. Okuda abrir a caixa. Se o sr. Okuda nunca houvesse aberto a caixa, nada existiria. O mundo só começou a partir do momento em que o sr. Okuda abriu a caixa e disse a palavra. Ele disse: Yoshiko.

E Yoshiko ficou sendo o meu nome.

Depois que o sr. Okuda disse Yoshiko, eu ganhei, além de um nome, muitos começos e um fim. Eu começo na ponta dos meus dedos, nos fios dos meus cabelos, na planta dos meus pés, nos bicos dos meus peitos, na pele que cobre o vazio que há no meu corpo e em toda a superfície … Read More »



Passagem Literária da Consolação

Published on November 19th of 2013 by Julián Fuks in Guest Languages, Tongue Ties.

Julián Fuks

Chamemos de mal-estar nas livrarias. Sei que não sou o primeiro a sofrer desse infortúnio, sei que não serei a última de suas vítimas. Em algum inventário de novas patologias há de estar descrito esse desconforto específico, a um só tempo intenso e sutil, que pode acometer o sujeito que vagueia entre longas estantes de volumes lustrosos e apelativos. Uma náusea, talvez, uma ânsia cuja causa é difícil de distinguir: algo na ordem excessiva dos livros, em sua prontidão obediente, algo em sua evidente hierarquia. Quanto maior a loja, quanto mais transparentes suas vitrines, mais forte o sentimento – mas nas pequenas livrarias de rodoviárias e aeroportos o mal pode alcançar dimensões imprevistas.

Estou certo de que o fenômeno se alastra por uma centena de países, mas também de que ele encontra em São Paulo uma de suas … Read More »



Yolanda Castaño

Published on November 19th of 2013 by Yolanda Castaño in Guest Languages.

“Aquí o que nos falla é que
non nos sabemos vender”, queixábase seguido o teu
patio de veciños;
pero cando chegou para o quinto dereita
aquel tipo que si o sabía facer ben,
axiña toda a comunidade comezou a tirarlle pedras dende o
balconciño.

Disco do encollemento. Galiñas da apropiación.
Se todo imaxinario cicatriza, onde están daquela os
órganos do noso esquezo?

Para levantar fixeron falta multitudes,
para botar por terra: un fato, non máis.

 *

 QUE É DOR

A DOR QUE DE VERAS SENTE

Teño cara de gustarme
as cousas que non me gustan.

Os labios de toda a xente
falan sen despegarse.

Isto tamén é así.
As paredes dunha gruta na que alguén, hai dez mil anos,
desdoura o natural da pedra.
Moedas, corrente alterna,
unha rapaza nada cos xenes da beleza,
toda picada de complexos.
Coma un orgasmo de Hedy Lamarr, os ollos de Nikola Tesla.
Un país onde non ser,
onde só cómpre
parecelo.
Luvas desenfundadas, sal, a máis prestixiosa
de todas … Read More »



Die großen Bäume. Eine Juno-Novellette.

Published on November 18th of 2013 by Paul Scheerbart in Guest Languages, Time Regained.

 Paul Scheerbart

Die großen Bäume tasteten mit ihren langen Astarmen immer heftiger in der Luft herum und konnten sich gar nicht beruhigen; sie wollten durchaus wissen, was sie einst waren, als sie noch nicht Astarme hatten.

Der Asteroïd Juno war eine dicke runde Scheibe – so wie ein großer irdischer Eierkuchen sah er aus; der Durchmesser dieses Kuchens betrug noch nicht einmal zweihundert Kilometer, dick war er nur in der Mitte, den Rändern zu wurde er immer dünner.

Die Juno wurde nur von riesig großen Baum-wesen bewohnt, deren Wurzeln sich in der Mitte des Sterns durcheinanderschlangen. Sehr hoch ragten die Bäume in den Äther hinauf – in der Mitte fast hundert kilometer hoch – sowohl nach der einen Kuchenseite wie nach der andern. Aber nach dem Kuchenrande zu wurden die Bäume immer kleiner, so dass der … Read More »



Гиперион [Moscow]

Published on November 18th of 2013 by Marfa Nekrasova in Guest Languages.

 

 By Marfa Nakrasova

Слово “Гиперион” имеет много значений: и книжка, и поэма, и роман, и дерево, и космический корабль, и титан, и спутник Сатурна. В устах москвичей же это все чаще означает поход в книжный, который гораздо больше чем просто лавка с книгами – это прямо-таки гиперкнижный. Cамо расположение в бывшем доме культуры Оригинал (привет советскому союзу!) обрекает его на андерграундность – там уже года три как творческие юноши и девушки открывают и закрывают все более странные места, магазины, кафе, студии, мастерские для таких же ценителей современного искусства. Создатели подошли к задаче с сколь творчески, сколь с уважением к советскому прошлому. На лужайке у входа соорудили песочницу, раскидали игрушки, чтобы читающие мамы и папы оставляли своих детей при деле, поставили скамейки для перекуров, у входа повесили деревянную правдоподобную ворону – самую популярную московскую птицу после голубя. Из … Read More »



Шанхайчик біля Федорова [Lviv]

Published on September 6th of 2013 by Natalka Sniadanko in Guest Languages.

Наталка Сняданко.

– Нельзя здесь фотографировать, — суворим голосом озивається до мене дідок у класично радянській кепці з козирком, дермантинових босоніжках, сорочці навипуск і давно не праних штанях.

– Шкода, — зітхаю я і ще раз кидаю оком на асортимент його розкладеної на бруківці дермантинової підстилки: у центрі поганої якості ксерокопія скороченої версії «Майн Кампф», поряд такої ж якості розвідка про українські визвольні змагання 20-х р.р. минулого століття, а все це на тлі щедрого асортименту піонерсько-комсомольсько-фронтової символіки радянського часу – значків, світлин, ременів і кокард.

На сусідніх столиках і підстилках – вибір не менш яскравий і різноплановий. Вінілові платівки із записами радянської та італійської естради, алюмінієві ложки та виделки, кулінарні книги польською і російською, видані протягом останніх 100 років, ілюстровані та чорно-білі видання про все на світі, гламурні журнали з усього світу – відносно … Read More »



O caderno de Natanael

Published on May 15th of 2013 by Veronica Stigger in Guest Languages.

Veronica Stigger

Opalka entrou na pequena sala da casa de seu filho Natanael e caminhou até a janela, embaixo da qual havia uma mesa quadrada de madeira, com um dos lados encostado na parede. Em cima da mesa, estavam um caderno fechado de capa dura vermelha, tamanho ofício, um pote de tinta também vermelha e uma pena. Sentou-se então na cadeira de palha e abriu o caderno, no qual estava escrito:

Fazer um livro antigo
um livro de viagens
com páginas que se desdobram

A história começará numa cidade grande
− numa metrópole −
ou à beira-mar

Será a história de um homem só
um homem velho
um homem cansado

O homem terá uns sessenta anos
usará terno branco e sapatos bicolores
e terá um chimpanzé

Seu chimpanzé será imenso
do tamanho do meu personagem
alto e forte como um escandinavo

Terá a pelagem cinza-claro
(E que não venham me incomodar dizendo
que chimpanzés não … Read More »






» subscribe!

Newsletter